terça-feira, 30 de julho de 2013

Tradição ou traição?

Nosso país é tão grande que temos muitas culturas dentro de uma só nação, aliás, temos mais de uma nação em um só país, as nações indígenas e quilombolas também fazem parte de nossa diversidade.
Temos muitas influências literárias e diferentes maneiras de encarar a vida em sociedade, em muitos lugares é costume o vizinho “cuidar’ da vida do outro e para eles é comum. Em outros existem vizinhos que moram anos ao lado e não fazem nem idéia do nome da pessoa que divide a mesma parede. Tem lugares no Brasil ainda se usam banheiros fora de casa (nestes lugares, normalmente é por falta de saneamento básico) e para quem mora nestes lugares ir à cidade e ver os apartamentos com banheiro é sinal que o povo dali é tudo porco (palavras do avô do meu filho, um tradicional lavrador do interior do maranhão ao ver “aquele monte de casa amontoada e com os banheiros dentro!”) pra ele isso era errado. Neste mesmo lugar os adultos ainda pedem a Bênção aos pais e padrinhos e beijam na mão!
Existem lugares e tipos de moradias tão diferentes, sons, tipos de instrumentos regionais, linguagens, modos de vestir, de ver os relacionamentos...sim existem lugares que as moças ainda esperam “pra casar” e em outros elas não querem nem pagando.
Temos regiões em que até a violência doméstica ainda é considerada “normal” ou pior: um direito do marido. Esta é o tipo de tradição que deve ser excluída, pois representa atos de violência contra outro ser e é por lei considerada crime, independente do pensar da região cultural.
Mas tenho que destacar duas tradições brasileiras na área da Cultura: O carnaval e a Festa Junina. Chega a ser contraditório que num país que sempre se declarou de maioria católica as maiores festas não sejam as novenas e procissões, e sim as festas consideradas pagãs, mas isso, acho eu faz parte de nossas contradições históricas e homéricas.
O Carnaval tem duas situações: o de Rua com Blocos, Bandas ou trios, Desfile das escolas e os nos clubes. Existem opções pra todos os gostos (ou quase), pois ainda há aqueles que não gostam nem de assistir e muitos que esperam por este momento o ano inteiro. O Carnaval recebe verba pública, ou seja: dinheiro do povo, as escolas têm estrutura e algumas até tem oficinas e cursos durante o ano todo pra comunidade. E sim o desfile para cada escola é um dia só e depois a da chamada apoteose, que é o desfile apenas das campeãs.
A festa junina assim como o carnaval também faz parte das tradições indexadas, ou seja, são tradições dos países colonizadores neste caso as duas tradições são vindas de costumes europeus. O Carnaval se difundiu primeiramente na região Sudeste, porém hoje até cidades novas como Brasília já tem suas tradicionais escolas de Samba.
Os festejos juninos são tradição nordestina, mas também se difundiu até mesmo pela migração de nordestinos para outras regiões. A diferença é que não há para os festejos Juninos os investimento público que há para o Carnaval, não há (exceto em alguns lugares) reconhecimento para os Grupos de Quadrilha ou incentivo para que ensaiem que tenham boas fantasias que mantenham os grupos tocando as quadrilhas ao vivo e não apenas dançado com o CD.


Mas mesmo sem os investimentos e até considerando a força nordestina neste país me pergunto porque nem nas escolas públicas a tradição está sendo mantida? Isso não é questão de dinheiro, isso é questão de boa vontade, de respeito, de se entender o que a sanfona, o triângulo e a zabumba significam para a cultura nordestina. É de lembrar o que significa Luiz Gonzaga e outros para a nação nordestina. Porque em muitas escolas as crianças estão sendo “impedidas” de entrar de caipira? Tem que se vestir de Country! Durante as festas só tocam funk...não existem mais as comidas típicas, agora o que tem em festa junina é cachorro quente! E há quem diga que isto é uma evolução natural? Não acredito.
Ainda neste ponto um dia fui ver os preços de alguns instrumentos e sabe qual é o mais caro no Brasil?  Sim, a sanfona... a mais barata custa no mínimo R$ 3.000,00 (isso mesmo três mil reais) as boas são em torno de vinte mil. Agora me fala, como um instrumento que representa a cultura de um povo (no nordeste e no sul) pode ser tão caro? Como a tradição de tocá-lo poderá ser mantida? Como? Se nem nas faculdades de música ele não é instrumento base de formação.
Nosso país precisa sim ensinar as crianças a ler, a somar, a dividir, a raciocinar... Mas precisa manter suas raízes, suas tradições. Não é à toa que vemos verdadeiros lixos sendo cuidados como cultura e a verdadeira Cultura tratada como lixo. Esta inversão perversa de valores desvaloriza o nosso maior tesouro: nossas raízes.
Através do ensino da Música como disciplina, podemos incluir ai: Cultura, estímulo de percepção sensorial e raciocínio, matemática, coordenação motora, convívio social e superação. Quem é contra que nas escolas publicas seja definitivamente implantada a educação musical? Quem?

Quem é que quer exterminar toda uma Cultura e suas tradições? O Brasil já amadureceu o suficiente para ter sua identidade cultural preservada em todas as suas nuances, falas e diferentes rituais. Se não abrirmos os olhos o fato de acordar só nos deixará conscientes e imóveis, deitados eternamente, mais que acordados, precisamos estar informados e atentos e em movimento na construção de cada detalhe que nos fará cada vez mais uma Nação.

Um comentário:

GenivaldoTROPA SUICIDA disse...

Parabéns Claudia pela iniciativa do bloq......sinceramente não sei muito bem como funciona esse negocia de pagina/blog etc....mas todo meio de comunicação é valido e necessário ....quanto ao tema de "abertura", se é que se chama assim, está muito bom e polemico/contraditório como tudo no Brasil, cultural e musicalmente perfeitos!! heheheh