quarta-feira, 31 de julho de 2013

Vítimas do sistema

Lembro da campanha de Lula onde um rapaz dizia com tom emocionante que “o Jovem da favela também quer ter um tênis novo”, e isso pegou! Hoje eles têm, a qualquer preço (até de vidas alheias), querem roupas de marca, bonés com estilo, correntes pesadas de ouro é a tal da ostentação que os ajuda a pegar mais garotas, ficando famosos e com dinheiro rápido (quase o mesmo caminho do tráfico) eles tem uma vida curta e intensa (a chamada “Vida Loca”), porém não se vêem estes jovens dizendo que querem urbanizar sua favela, que querem saneamento básico (já que é o básico), que querem morar dignamente e ter orgulho em pagar o que consomem, não! Isso é como um pecado! Acabar coma favela que não se sabe como ou porque se tornou orgulho Global ao ponto de levar turistas pra passear no que seria nossa vergonha nacional, (cenas de novela) ou será que eu estou confusa? Dá pra se ter orgulho disso? Tenho orgulho dos brasileiros que lutam sempre e honestamente para ter o que comer que enterram seus sonhos na troca da lida diária por sobrevivência, orgulho de um amontoado gigante de pessoas que moram sem um mínimo de qualidade de vida? JAMAIS! Isso é vergonha! 

Neste ponto temos que pensar ainda nos que vêem os jovens que se utilizam do tráfico de drogas para ter seu modelo de vida como o único jeito de sobreviver, mesmo sendo filho de gente trabalhadora e tendo bons exemplos em casa, escolas perto e ao querer ostentar e fazer “de tudo” (inclusive matar) para ter bens de consumo que imaginam ser seu por direito, isso é a escolha deles e não a “única opção” existe ainda os que os vejam como frutos do sistema... Ora, aí temos que ver alguns pontos: Será que estes que matam por roupas de marca são mesmo frutos do sistema? Se forem os filhos da burguesia também o são e aí se justificam na utilização de todos os meios para manter “seu padrão” de vida! Os filhos da burguesia podem (e alegam) que tem medo de passar necessidade, de perder seu padrão. Se o jovem da favela usasse suas energias para contrapor o sistema que os oprime ao invés de fazer o papel que lhes foi imposto, apresentado ou pré-determinado fariam muito mais conquistas do que apenas adquirir um tênis novo, conseguiria urbanizar as favelas, ter escolas decentes, postos de saúde e áreas de Lazer e Cultura. O que acontece é que muita gente que faz destes protagonistas as vítimas e o faz como com os capitães do mato, sim aqueles que se venderam e perseguiam seus irmãos de cor e justificam que era por sobrevivência. Imagine se estes capitães do mato se rebelassem e lutassem (com as armas de fogo que já tinham) contra os senhores de escravos? Imagine se eles olhassem para si mesmos e percebessem de qual lado deveriam estar? (já que estavam numa guerra). Imaginem que Brasil seria este se muitos anos atrás as pessoas conseguissem perceber quem é o opressor e começassem a lutar contra ele e não para ele! Sim, não inocento os capitães do mato, nem os que se aliam ao tráfico de drogas, de pessoas ou a qualquer tipo de crime ou corrupção que usufruem dos frutos plantados por outros para ostentar sua mediocridade, estes deveriam, no mínimo passar uma temporada em isolamento pra dar valor ao convívio social, deviam, tanto quanto os que dormem em lençóis de 180 fios numa cama quente, trocar de lugar ao menos por um dia com quem está nas ruas, e para aqueles que acham que trabalharam mais que os outros, que ficassem apenas com o que produziram honestamente, sem especulação, sem maracutaias, sem propinas e sem desvios. Imaginem se nós passássemos a ter vergonha de nossa falta de estrutura? Se tivéssemos vergonha de nosso omisso silêncio? Se começarmos a perceber que moramos numa terra linda, produtiva de gente batalhadora, que podemos começar a pensar antes de comprar? Se começarmos a refletir no lucro que a miséria dá para alguns!?


Sim, são pontos polêmicos, temos muito mais a pensar... Temos que ter nosso próprio modelo de país, de cidade, e que neste novo modelo tenha espaço para todas as vozes, que tenha regras coletivas de respeito e convivência, com aceitabilidade mútua das diferenças e divergências. Não, não há um milagre ou um salvador da pátria, não existe nada além de um novo modo de discutir se não tomarmos posse de que é nosso, mas tomar posse significa cuidar, sim cuidar mesmo, estudar as coisas e a partir daí cobrar ações que não apenas disfarcem a favela, mas que a transforme de dentro pra fora. Que os capitães do mato atuais lutem por coisas corretas e pelo lado da vida e não tirando vidas para dar mais poder ao usurpador, que os que nasceram em berço de ouro procurem saber de onde veio este poderio e que consigam olhar com mais humanidade ao semelhante. Que toda a hipocrisia se transforme em ações concretas, aí sim, deixarei de sonhar, pra viver uma realização: viver num lugar de gente, feito pra gente e bicho viver! Chega de pequenos grupos vivendo como sanguessugas da maioria que produz!

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