Lembro da campanha de Lula onde um
rapaz dizia com tom emocionante que “o Jovem da favela também quer ter um tênis
novo”, e isso pegou! Hoje eles têm, a qualquer preço (até de vidas alheias),
querem roupas de marca, bonés com estilo, correntes pesadas de ouro é a tal da
ostentação que os ajuda a pegar mais garotas, ficando famosos e com dinheiro
rápido (quase o mesmo caminho do tráfico) eles tem uma vida curta e intensa (a
chamada “Vida Loca”), porém não se vêem estes jovens dizendo que querem
urbanizar sua favela, que querem saneamento básico (já que é o básico), que
querem morar dignamente e ter orgulho em pagar o que consomem, não! Isso é como
um pecado! Acabar coma favela que não se sabe como ou porque se tornou orgulho
Global ao ponto de levar turistas pra passear no que seria nossa vergonha
nacional, (cenas de novela) ou será que eu estou confusa? Dá pra se ter orgulho
disso? Tenho orgulho dos brasileiros que lutam sempre e honestamente para ter o
que comer que enterram seus sonhos na troca da lida diária por sobrevivência,
orgulho de um amontoado gigante de pessoas que moram sem um mínimo de qualidade
de vida? JAMAIS! Isso é vergonha!
Neste ponto temos que pensar ainda nos que
vêem os jovens que se utilizam do tráfico de drogas para ter seu modelo de vida
como o único jeito de sobreviver, mesmo sendo filho de gente trabalhadora e
tendo bons exemplos em casa, escolas perto e ao querer ostentar e fazer “de
tudo” (inclusive matar) para ter bens de consumo que imaginam ser seu por
direito, isso é a escolha deles e não a “única opção” existe ainda os que os
vejam como frutos do sistema... Ora, aí temos que ver alguns pontos: Será que
estes que matam por roupas de marca são mesmo frutos do sistema? Se forem os
filhos da burguesia também o são e aí se justificam na utilização de todos os
meios para manter “seu padrão” de vida! Os filhos da burguesia podem (e alegam)
que tem medo de passar necessidade, de perder seu padrão. Se o jovem da favela
usasse suas energias para contrapor o sistema que os oprime ao invés de fazer o
papel que lhes foi imposto, apresentado ou pré-determinado fariam muito mais conquistas
do que apenas adquirir um tênis novo, conseguiria urbanizar as favelas, ter
escolas decentes, postos de saúde e áreas de Lazer e Cultura. O que acontece é
que muita gente que faz destes protagonistas as vítimas e o faz como com os
capitães do mato, sim aqueles que se venderam e perseguiam seus irmãos de cor e
justificam que era por sobrevivência. Imagine se estes capitães do mato se
rebelassem e lutassem (com as armas de fogo que já tinham) contra os senhores
de escravos? Imagine se eles olhassem para si mesmos e percebessem de qual lado
deveriam estar? (já que estavam numa guerra). Imaginem que Brasil seria este se
muitos anos atrás as pessoas conseguissem perceber quem é o opressor e
começassem a lutar contra ele e não para ele! Sim, não inocento os capitães do
mato, nem os que se aliam ao tráfico de drogas, de pessoas ou a qualquer tipo
de crime ou corrupção que usufruem dos frutos plantados por outros para
ostentar sua mediocridade, estes deveriam, no mínimo passar uma temporada em
isolamento pra dar valor ao convívio social, deviam, tanto quanto os que dormem
em lençóis de 180 fios numa cama quente, trocar de lugar ao menos por um dia
com quem está nas ruas, e para aqueles que acham que trabalharam mais que os
outros, que ficassem apenas com o que produziram honestamente, sem especulação,
sem maracutaias, sem propinas e sem desvios. Imaginem se nós passássemos a ter
vergonha de nossa falta de estrutura? Se tivéssemos vergonha de nosso omisso
silêncio? Se começarmos a perceber que moramos numa terra linda, produtiva de
gente batalhadora, que podemos começar a pensar antes de comprar? Se começarmos
a refletir no lucro que a miséria dá para alguns!?
Sim, são pontos polêmicos, temos
muito mais a pensar... Temos que ter nosso próprio modelo de país, de cidade, e
que neste novo modelo tenha espaço para todas as vozes, que tenha regras
coletivas de respeito e convivência, com aceitabilidade mútua das diferenças e
divergências. Não, não há um milagre ou um salvador da pátria, não existe nada
além de um novo modo de discutir se não tomarmos posse de que é nosso, mas tomar
posse significa cuidar, sim cuidar mesmo, estudar as coisas e a partir daí
cobrar ações que não apenas disfarcem a favela, mas que a transforme de dentro
pra fora. Que os capitães do mato atuais lutem por coisas corretas e pelo lado
da vida e não tirando vidas para dar mais poder ao usurpador, que os que nasceram
em berço de ouro procurem saber de onde veio este poderio e que consigam olhar
com mais humanidade ao semelhante. Que toda a hipocrisia se transforme em ações
concretas, aí sim, deixarei de sonhar, pra viver uma realização: viver num
lugar de gente, feito pra gente e bicho viver! Chega de pequenos grupos vivendo
como sanguessugas da maioria que produz!